Assim é MIGHTY JOE YOUNG (1949), que nos cinemas brasileiros ganhou o sensacionalista – e, por isso, mesmo ótimo – título de O MONSTRO DO MUNDO PROIBIDO.
Trata-se da terceira “aventura com gorila gigante” dirigida por Ernest B. Schoedsack, que desbravara o filão com o indestrutível clássico KING KONG (1933), co-dirigido por Merian C. Cooper – nas duas “aventuras com gorila gigante” seguintes, Cooper assinaria apenas como produtor.
O sucesso do primeiro KING KONG levou Schoedsack a dirigir no mesmo ano uma continuação meio que feita às pressas, O FILHO DE KONG (1933) – naquela época, não se usava adicionar um algarismo romano ao título original, muito menos ressuscitar um personagem morto só para fazer uma seqüência; daí porque a fórmula de “O FILHO DE...” era tão popular.
Schoedsack e Cooper voltariam a se reunir com o criador dos efeitos especiais dos dois primeiros filmes, Willis O’Brien, para O MONSTRO DO MUNDO PROIBIDO.Voltava também o ator Robert Armstrong, intérprete do ambicioso cineasta Carl Denham em KING KONG e O FILHO DE KONG, agora no papel de Max O’Hara, um dono de night-club – ambicioso, é claro (na foto abaixo, da esquerda para a direita, Armstrong, Ben Johnson, Nestor Paiva e Terry Moore).
Em busca de uma grande atração para a boate Golden Safari, ele organiza uma expedição à África.Entre os membros do grupo está o caubói de espetáculos Gregg (Ben Johnson).
Depois de capturar vários leões, os homens de O’Hara travam uma furiosa batalha com Joseph Young, um gorila com mais de 3 metros de altura (grande, mas bem menor que King Kong, cuja altura variava de 5 a 7 metros, dependendo da cena; Joe Young também varia de tamanho no decorrer do filme).
Não tardam a descobrir que o gorila tem dono, a jovem e encantadora Jill Young (Terry Moore).Filha de um colonizador estrangeiro, provavelmente americano, desde a morte do pai ela vive sozinha com os empregados africanos e seu gorila de estimação nas terras que herdou.
O’Hara logo a convence a ir com eles para a América, onde fará dela (e de Joe Young, obviamente) a principal atração de seu night-club.
Como se vê, é uma versão mais “família” de KING KONG.
Tão família que entre as três “aventuras com gorila gigante” dirigidas por Schoedsack, foi justamente essa que o Estúdio Disney escolheu para refilmar – e há quem diga que o resultado, lançado no Brasil como O PODEROSO JOE (1998), ficou bastante aceitável (abaixo, da esquerda para a direita, o novo Joe Young, a bela Charlize Theron e Bill Paxton).
O que para mim parece inaceitável é o processo de castração ao qual o diretor Schoedsack submeteu seus gorilas gigantes.De KING KONG para O MONSTRO DO MUNDO PROIBIDO, eles diminuem não é só em tamanho, mas também em libido.
O fato de Joe ter o mesmo sobrenome da heroína, Young, evidencia que ele não passa de um irmãozinho para ela.
Sente-se confortável nessa situação, não demonstrando ciúme algum quando Jill se apaixona por Gregg.
Tudo que ela pede, Joe Young faz, como se fosse um cãozinho adestrado.
Ao fazer tal opção, Ernest B. Schoedsack renega ou demonstra não se dar conta do que havia de mais sedutor e impactante em KING KONG: a paixão carnal do símio gigante por Ann Darow (Fay Wray).Não se tratava de afeição, nem de amor, mas de desejo sexual.
Desde o início, até por uma questão de estatura, ficava definida a impossibilidade da concretização daquele desejo.
E, conseqüentemente, a tragédia pairava no ar, quase palpável.
Se o gorila de O MONSTRO DO MUNDO PROIBIDO é assexuado, o que mantém o espectador grudado na poltrona até o fim?
Os hipnóticos efeitos especiais em stop motion (a técnica pela qual bonecos são manipulados, movimentados e fotografados quadro a quadro).Produzido 16 anos depois de KING KONG, O MONSTRO DO MUNDO PROIBIDO apresenta resultados técnicos bem superiores, por sinal premiados com o primeiro Oscar de efeitos especiais da história da Academia.
Apesar do crédito a Willis O’Brien, o principal responsável pelas animações no filme foi o jovem Ray Harryhausen, fazendo sua estréia em longas-metragens (na foto abaixo, ele com o boneco de Joe Young).
As sessões da tarde de gerações e gerações futuras não seriam as mesmas sem a magia dos filmes com efeitos de stop motion a cargo de Harryhausen – JASÃO E OS ARGONAUTAS (1963), AS NOVAS VIAGENS DE SIMBAD (1974) e SIMBAD E O OLHO DO TIGRE (1977), para citar poucos.Do trabalho dele a partir dos desenhos de O’Brien vêm os momentos mais cativantes de O MONSTRO DO MUNDO PROIBIDO, como a luta de Joe Young contra os leões e a seqüência em que caubóis tentam laçá-lo em plena selva africana.
Particularmente poética é a imagem da plataforma sobre a qual Jill toca piano se erguendo do palco como que por mágica, até que holofotes revelem nosso amigo Joe Young dando uma mãozinha.
Os realizadores do filme poderiam ter se contentado com a perfeição técnica de seu gorila, mas fizeram questão de ir além.Quase no final, de maneira um tanto abrupta até, entra na história um orfanato em chamas.
Jill, Gregg e Joe Young desistem de fugir da polícia e param para ajudar as criancinhas em perigo.
Aqui, Joe Young se revela mais dócil até que Maguila, o Gorila dos desenhos de Hanna-Barbera.
Mas do ponto de vista técnico, toda a seqüência, fotografada em tons avermelhados de sépia, constitui um primor.
Atores interagem com bonecos e maquetes como se a vida toda tivessem habitado a mesma dimensão.
Tudo é tão perfeitamente realizado que você até esquece do final bocó que vem logo em seguida.
RANKING RP DAS 5 MELHORES FRASES EM CARTAZES
4) “Os dois mais poderosos monstros de todos os tempos no mais colossal conflito que a tela já conheceu!”, do clássico japonês KING KONG VS. GODZILA (1962)
3) “Arrancados de seu paraíso selvagem... Traídos por aqueles em quem confiaram... Destruição para todos!”, de MIGHTY PEKING MAN (1977), produção made in Hong Kong
2) “O que uma mulher faria para sobreviver?”, de KING OF KONG ISLAND (1968), título com que foi lançado nos Estados Unidos um filme italiano que não tem nem gorila gigante, nem ilha – mas conta com a beleza da atriz brasileira Esmeralda Barros
1) “Ela está num daqueles dias outra vez!”, da co-produção britânico-franco-germânico-italiana QUEEN KONG (1976)

























Por mais que me esforce, porém, não consigo acreditar que quando jovem Donna Sheridan (Meryl Streep) tenha dormido com Sam Carmichael (Pierce Brosnan), Harry Bright (Colin Firth) e Bill Anderson (Stellan Skarsgård) – um de cada vez, bem entendido – conforme se vê em MAMMA MIA! (2008).















